Padre Pinto estreia no Sesc Pompeia dia 24 de janeiro

osé de Souza Pinto – Padre Pinto -, nasceu em Salvador, em 1947. Dedicou 32 anos do seu sacerdócio à Paróquia da Lapinha, bairro da capital, onde desenvolveu atividades de inclusão social e de combate à pobreza, como parte de suas crenças e de seu vínculo com a teologia da libertação e os manifestos históricos da igreja, como o “Pacto das Catacumbas” (assinado por bispos do Concilio Vaticano II) e “Eu ouvi os clamores do meu povo” (manifesto dos bispos do Nordeste a favor dos pobres e oprimidos, em plena ditadura militar).
Ao acolher o convívio entre personagens bíblicos e a cultura afro-cabocla, em suas missas e sermões da igreja, Padre Pinto revitalizou um festejo secular do bairro: a Festa de Reis da Lapinha, manifestação que data do período colonial brasileiro, e que recria o momento místico da visita dos reis magos ao menino Jesus. Ele foi o fundador do Terno da Anunciação, o mais famoso do cortejo.
Padre Pinto tinha habilidades artísticas notáveis. Dançarino, ele coreografava e dançava nas missas que oficiava, com trajes e cantos multiculturais. Em 1997, instalou na igreja um presépio com os Reis Magos em cima da réplica de uma fóbica, o primeiro trio elétrico do Brasil. Como artista plástico, realizou intervenções urbanas e exposições em museus renomados de Salvador, criando mais de 500 telas e esculturas, uma delas a grande escultura de Cristo com traços negros, católicos e dos povos originários.
Em 2006, na festa de reis, celebrou uma missa, vestido de Oxum, orixá do candomblé, cantando e dançando na igreja e nas ruas do bairro. A maioria aplaudiu, mas os fiéis tradicionais e o clero conservador manifestaram incômodo. O evento explodiu na mídia, causou enorme polêmica e gerou uma investigação que envolveu o Vaticano. Um acordo entre o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil Dom Geraldo Majella e o padre Ludovico Caputo, emissário da Santa Sé, culminou na remoção do Padre Pinto da Paróquia da Lapinha.
Em resposta, ele se inicia no candomblé, discute e vive publicamente sua homossexualidade e participa de forma ativa em shows e festas do verão de Salvador, atraindo a tenção da mídia nacional. Abandonado, ele é recolhido em um retiro na Paróquia da Divina Providência, no bairro de São Caetano, onde viveu por 13 anos. Em 2019, ele morre, devido a uma severa depressão e a complicações cerebrais. Em 2020, antes da Covid-19 grassar o país, o Terno de Reis da Anunciação celebrou o legado do Padre Pinto em um cortejo de 150 integrantes, que assim se manifestaram: “Um artista”, “um iluminado”, “um gênio”, “ele era tudo para gente”.
Serviço: Padre Pinto: a narrativa (re)inventada
Sesc Pompeia: R. Clélia, 93 – Água Branca, São Paulo – SP, 05042-000
Quintas, sextas e sábados, às 20h
Domingos, às 17h
* No dia 25 de janeiro, a sessão será às 17h, por conta do feriado.